terça-feira, 12 de junho de 2012

Poesia figurada.

O corpo de todas elas era a mais límpida folha de papel que minhas ideias poderiam pintar. Minha caneta percorria todas as sinuosas curvas, personagens caminhavam naqueles caminhos montanhosos. Letras lutando para subir suas cinturas, ou descer, algumas contornando os seios, passando por cima, colocando hífens nos mamilos, para poder continuar a palavra, formando caracóis nos umbigos, mais montanhas nos glúteos, um caderno inteiro na porção das costas, estórias cruzando florestas de pelos, poemas versificados e cheiso de lira nas coxas, nas batatinhas, plantas dos pés, nuca até chega na região inalcançável da vagina, onde outro tipo de poesia acontece.
E então, o mais sólido dos meus poemas era lavado de seus corpos no banho, todas as minhas palavras derretiam, escorriam, implorando para ficar um pouco mais nas ondas de carne,
Mas a água sempre foi impiedosa,
E levava minhas palavras ralo abaixo.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Pisces

Um peixinho me pediu para escrever

Pena que com palavras não sei lidar

Elas dançam na frente dos meus olhos

E escorregam das minhas mãos

Quando eu acho que as tenho

Elas se transformam em sabonete

Então, perdoa-me, meu adorável peixinho

Volte para seus rios, lagos, mares

Profundos como você,

E eu voltarei para a minha solidão

Roubando as palavras dos outros

Roubando até as vírgulas

E no dia que todo esse universo de pontos for meu

Convidar-te-ei para voltar a tentar o ar.


sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Atepac

Em crentes

Eu cri

De crentes

Fugi


Depois do pacto

Com Satanás

Eu o venero

Apraz


Religião é isso

Amar o iscariote

Encoberto com

Os holofotes


Religião é assim

Do bem

Queremos o mal

AMÉM!


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Calhorda

Maria, ah, Maria
Tu és fogosa
Tu és fria
Como a manhã de lá

Januária, ê, Januária
Com sua boca sempre a beira
Do retumbante som do mar
Ondas de oxalá!

Carolina, minha menina
Cílios de anzóis
Com olhos de candura
Da cor do manto de iemanjá

De todas essas
Em homenagens brasileiras
A que amei, verdadeira
Deixei em acolá.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Cores

De um jeito romântico, estava sentado no cemitério sentindo cheiro de Lord Byron, enquanto minhas lágrimas apostavam corrida com a chuva, e ainda não sei quem ganhava.

Vi as flores brancas que colhi para celebrar nosso funesto noivado. Vi sua foto, preto e branca, bela como sempre lembraria.

Ao levantar os olhos de tão fúnebre contemplação, as flores, antes matrimonialmente brancas, estavam cinzas, e não só as flores, as árvores, a terra, os túmulos, minhas mãos, tudo. Não conseguia mais distinguir cores, passei a viver dentro da televisão de antigamente.

Engraçado o mundo sem cor! É viver dentro de uma fotografia séria; passar minutos esperando, até cansar de sorrir, para finalmente ter seu rosto estampando na eternidade de um papel, com feições rígidas do cansaço. Acho que vivi sorrindo com você todos esses minutos, e agora era hora de viver a realidade nas cores que ela é.

Mas não! Não era isso que eu queria! Eu queria as cores, sentia saudade do azul! Mas o que seria do amarelo? Sentia saudade de todas as cores, menos do preto e do branco, que se resumem em cinza, pois era só eles que eu conseguia ver.

Lutei, corri, gritei. Clamei para que as cores voltassem pra mim. Chorei para ver se as lágrimas lavariam meus olhos (ou minh’alma). Não consegui.

Queria o céu, o sol, a lua, a grama, as flores, as folhas, você. E não tinha nada disso.

Percorri o caminho cor-de-mímica até chegar em casa, as pessoas que passavam ao meu redor, olhavam-me com misericórdia desbotada, e falavam em sanatório. Cheguei em casa, sem saber o que fazer, e vi uma de suas bonecas que chorava um chorinho manso de neném; peguei o falso neném, objeto de trabalho de crianças escravas aprendendo a ser mãe, cortei-lhe o ventre, com uma tesoura (bisturi) e achei seu choro, achei o saquinho que fazia o neném sentir fome e rapidamente ser saciado com comida imaginária. Peguei o Saco de Choro, joguei no chão, pisei, joguei na parede e esperei escorrer sangue.

Não escorreu sangue.

E vagarosamente, as cores foram retomando ao meu olho, uma por uma, primeiro o verde, azullilássalmãocresmeraldamarelolivazul, bem frouxamente, fui voltando às cores.

Quanta felicidade, meu amor! O mundo inteiro voltou aos meus olhos.

Menos você.

Precisei tirar a chance de choro de um neném, precisei ser mau! Ou bom, já que o neném não terá mais como chorar. Acho que preciso mesmo de um sanatório, hospício, ou manicômio, tanto faz.

Mas Deus que me livre de uma casa de doidos! Que de doidos já bastam todos esses normais.

sábado, 10 de setembro de 2011

Sutileza

Não agüentei ver os olhos dela se fechando tão rápido e tão devagar.

“Por que você tá sempre com sono?”

Ela sorriu, assoprou suavemente meu rosto e respondeu:

“Eu sou o sono.” E continuou a sorrir.

E por um momento, eu senti um pouco daquele sono lamber minha face, senti o sono dela, e quis fechar meus olhos, como ela.

Mas quando esse feitiço passou, olhei para aquela pele alva, que tanto gostava de ver roxa, e senti vontade de bater nela. Vi aquele sorriso branco, tímido e lindo, e quis quebrar seus dentes. Vi seus olhos com olheiras inefáveis, e quis aumentar aquele purpúreo. Só por ela ter feito essa brincadeira infantil, e eu ter caído. Não fiz nada disso, assoprei suavemente o rosto dela e disse:

“Eu sou a raiva”

E não sorri. Tampouco ela sorriu.

Porém, ela olhou nos meus olhos, que diferentemente do dela, eram injetados de sangue, assoprou meu rosto com sua candura vitalícia e disse:

“Eu sou o amor”

Eu olhei para ela, e aquela mulher, aquela menina, era mesmo a personificação do amor. Peguei minhas roupas, bati a porta, fui embora. Nunca mais vi o amor.

Por que eu fui?

Não iria mais enganá-la.

Porque o amor da raiva é o ódio.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Tentativas poéticas

Menina bonita
Do cabelo amarrado
Em rabo de cavalo

Menina bonita
Dos lábios pintados
De um batom modorrado

Batom modorrado
O da menina bonita
Que anda e balança
Toda a cidade
Com seu charme, sua dança

Menina bonita
Dos olhos coloridos
De verde e amarelo
Bastante fustigados

Bonita menina
Perdeu-se na vida
Por ser destemida

E agora,
Menina bonita
quem é sabedora?
Do Deus-dará
Tu passarás?

Mas não vencida
A menina bonita
Levantou-me a face
Mostrou sua classe

Não me cuspiu, não garriu
Não fugiu







Apenas para mim,
Sorriu.