terça-feira, 15 de março de 2011

Áurea

Teus lábios roçavam os meus, roubando-lhes a cor. Tuas mãos percorriam minha tez lívida, fazendo-a viver novamente. Nos amando, nos tornamos um só. Fi-lo conseguir o que quisera. Terminamos. Parti.

Tentara impedir com que eu fosse, agarrou meu braço e perguntou-me:

- Quem és tu? Conte-me tua história.

Mas que pergunta audaciosa, no entanto, respondi.

- Escute o vento, ele dirá quem eu sou, escuta tudo o que ele tem a te dizer. Pergunte ao vento e saberás mais do que eu. Tenho muitas penas, mas estão todas voando por ai.

Corri. O mais rápido que pude. E minhas poucas penas ficaram para trás, caindo uma por uma, cobrindo a pista com aquele resto de mim. Parara um pouco, e tentara recuperar o fôlego, meus joelhos traíram-me e jogaram meu corpo no chão, mas por lá mesmo fiquei. Meu corpo traiu-me novamente e fez com que saísse sangue transparente e salgado dos meus olhos, chorara por um tempo, sangrara por um tempo, com minhas penas brancas ao redor.

E é assim toda vez que fiz sexo, desde que saira de minha áurea imaculada, de uma bela virgem de tez lívida, a mulher de ambição dos românticos. Perdi minha inocência junto de um sangramento vaginal da primeira vez, e desde então, venho sangrando após as outras vezes. Meu corpo se retrai, e choro por todas as mentiras, e choro por todas as vergonhas, e choro pelo que perdi, e choro pelo prazer que causei, e choro pelo êxtase que sentiram.

E choro por minhas penas nascerem pretas.

E choro pela poesia que perdi.