Não agüentei ver os olhos dela se fechando tão rápido e tão devagar.
“Por que você tá sempre com sono?”
Ela sorriu, assoprou suavemente meu rosto e respondeu:
“Eu sou o sono.” E continuou a sorrir.
E por um momento, eu senti um pouco daquele sono lamber minha face, senti o sono dela, e quis fechar meus olhos, como ela.
Mas quando esse feitiço passou, olhei para aquela pele alva, que tanto gostava de ver roxa, e senti vontade de bater nela. Vi aquele sorriso branco, tímido e lindo, e quis quebrar seus dentes. Vi seus olhos com olheiras inefáveis, e quis aumentar aquele purpúreo. Só por ela ter feito essa brincadeira infantil, e eu ter caído. Não fiz nada disso, assoprei suavemente o rosto dela e disse:
“Eu sou a raiva”
E não sorri. Tampouco ela sorriu.
Porém, ela olhou nos meus olhos, que diferentemente do dela, eram injetados de sangue, assoprou meu rosto com sua candura vitalícia e disse:
“Eu sou o amor”
Eu olhei para ela, e aquela mulher, aquela menina, era mesmo a personificação do amor. Peguei minhas roupas, bati a porta, fui embora. Nunca mais vi o amor.
Por que eu fui?
Não iria mais enganá-la.
Porque o amor da raiva é o ódio.