quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Joana

Ali havia homens e mulheres trabalhando junto, o que não era nada normal para aquela época, deveras a escassez de prisioneiros, digo, trabalhadores, forçava-os a juntar todos.

O general entrou, e sentiu o bafo quente desesperá-lo no mesmo instante, sentiu pena dos que passavam o dia inteiro naquele calor insuportável, mas esquecia sua piedade instantaneamente, lembrando de que aquilo era uma prisão, e se ali estavam, é porque ali mereciam estar. Apressou-se em dizer:

- A senhorita que não agüentar de calor e tirar suas vestimentas, terá os seios tocados pelo homem que quiser tocá-los.

E riu, de uma maneira cínica, uma gargalhada cínica, que incomodou a alguns, mas fez a maioria dos depravados rirem junto. Embora fosse óbvio que nenhuma mulher tiraria sua roupa.

Não, não era óbvio, nem um pouco óbvio.

Ela nunca foi como as meninas de sua idade, nunca foi como as meninas mais velhas. Sempre se diferenciou. Isso era notável, primeiro, porque estava presa – rebeldia política – segundo, usava calças, coisa raríssima naqueles tempos. Alguns a chamavam de Joana D’Arc de sua época.

Todos viram a bela moça, com os cabelos já colando na face, tirar a blusa, e deixar os belos seios à mostra, eram redondos e firmes, ela nunca pensou no que iriam pensar, estava com calor, portanto tirou sua roupa.

Os homens foram a loucura, menos um, que sentia vontade de pular naquela moça insana e cobrir seus seios, que aqueles bêbados criminosos não deveriam ver nem em sonhos.

O primeiro a cumprir as ordens do general fora um homem de cabelos grisalhos, barba espessa e poucos dentes, ria como um bêbado, estava bêbado, seu hálito podia ser sentido de longe, chegou por trás da moça, e apertou seus seios firmemente, sentia vontade de chupá-los, mas ela estava tão indiferente, que é como se tivesse uma fortaleza ao redor e nada estivesse a tocando, sem repressão não tinha a mesma graça, ele apertou mais uma vez, passou sua língua nojenta naquelas costas macias e foi embora.

E assim seguiram, homens atrás de homens, bêbados atrás de bêbados, pegando nos seios dela, brincando com seus mamilos, e indo embora. Ela ficava impassível, indiferente, como se nada estivesse acontecendo.

Mas um deles, em especial, passara dos limites. Pegara em seus seios, como mais uns cinco outros fizeram, sentira o sangue irrigar seu corpo e fazer seu pênis ficar ereto, aquele homem não agüentou a excitação que sentia e atravessou uma linha estabelecida pela moça impassível. Com seus dedos sujos e as unhas grossas e encardidas, enfiou a mão em suas calças, e acariciou fortemente sua vagina. E quando menos esperou, ela desembainhara um canivete e enfiara em seu braço. Ele sentiu o sangue quente umedecer seu braço, e gritou, quando ia partir para cima daquela sirigaita ousada, gritando como um nearthendal, ela friamente passou o canivete na garganta dele, e deixou-o sangrar até morrer. Olhou todo o sangue jorrando, virou-se e continuou a trabalhar.

Os oficiais escutaram os gritos e correram imediatamente para ver o que acontecia. Viram o ocorrido, a mulher sem blusa, e um homem morto no chão. Associaram o que ocorrera e de pronto uma bala atingira o ombro dela. Agora ela quem sentia o sangue quente escorrer e sabia que seu corpo já debilitado não resistiria o sangramento.

Seu corpo não resistiu e caiu no chão. Um homem correu ao seu encontro, ele sabia que ela não fazia idéia de seu nome. Ela não fazia idéia de seu nome. Uma lágrima caira de seus olhos em direção ao ferimento, doeu, mas ela não esboçou um traço de dor, se preocupara com ele, pois ele sofria pela sua morte, enquanto os outros bêbados riam. Ele tirara sua blusa para cobrir-lhe os seios, beijara suavemente sua face, sempre fora apaixonado por aquela mulher, e ela nunca soubera. E disse em seu ouvido.

- Boa noite, minha queria, teu sono não tardará a vir.

E assim, ela esperara até que a morte viesse beijá-la tão suavemente como ele o fizera.

Tal qual aquela primeira Joana D’Arc, essa morrera queimada na fogueira do ódio daqueles que viram o homem sangrar até a motre, e do amor daquele homem que ela nunca vira, e que a amou incondicionalmente sem dizer uma só palavra.

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Escrito durante uma transvalia de sono, sei que não está bom, mas não queria simplesmente ignorar esse texto. Obrigada aos que leram.